20/02/2010

Surpresas


Engraçado como nos apegamos a certos filmes ou livros... Podem ser até ruins, mas as vezes uma frase ou uma situação podem fazer com que você se apaixone perdidamente por ele.
Ando gostando mais de livros que me intrigam, que me deixam encucado por um tempo. O mais novo exemplo disso é: Breve romance de sonho (Traumnovelle), de Arthur Schnitzler.
Passando os dedos em vários livros, me deparo com esse, bem fino e com uma capa sugestiva. Leio a contra-capa e me deparo com uma ótima surpresa: o livro que originou "De Olhos Bem Fechados", do Kubrick. Leio em dois passos e fico besta em ver como um livro de 1926 é tão moderno e como a transposição para o cinema foi ótima (revi o filme, logo após ter lido). Os temas como obsessão, ciúme, sonhos, sexo e fantasias foram bem retratados numa época que não sabia que ousavam tanto.
Revendo o filme, gostei mais dele. Principalmente por notar como adaptaram de uma forma tão genial.
Há casos que você gosta mais do livro por ter visto o filme, como esse; e há os que deixam você triste por ver que o filme retratou exatamente o livro e não saiu da forma tão legal como você tinha imaginado: gostei menos do livro Estorvo, depois que vi o filme, uma total decepção.
O último filme que me deixou grilado foi "Foi apenas um sonho", que posso fazer uma referência a 2046, que me tocou no mesmo aspecto.
A modernidade, e até as pessoas em minha volta, estão cada vez mais descrentes no amor, achando isso uma coisa natural, como se realmente tudo fosse seguir o ciclo de nascer e morrer. Posso não acreditar nisso? Por que é errado pensar assim? Tudo tem seus trancos e barrancos, mas há como contornar. "A gente conversa, a gente se entende" - lema da Avon que se aplica perfeitamente a isso.
Já em Eyes Wide Shut... qual seria o motivo desse título? Seria algo a ver com os sonhos, ou com as pessoas não querendo enxergar a verdade, ou sendo irônico de um modo Matrix, de que não vemos o mundo como realmente é e pode ser.
A mulher de Kubrick odiava o livro. Ele persistiu. Dizia se tratar de uma história sobre o medo. Já acho que seja sobre ciúmes, ou seria sobre desilusão inconsciente?
Toda a história tem seu estopim quando Dr. Harford fala que qualquer homem iria querer trepar com sua esposa, pois ela é linda. Elogio incomum, porém, compreensível.
A partir disso, Alice, chapada, começa a destrinchar uma discussão, começando pelo óbvio: evolução, feminismo, etc; indo para a linha do: nós mulheres também temos vontade; chegando ao clímax do exemplo vivo dessa vontade. Uma situação descrita que deixa o marido confuso e com raiva (?). Isso o leva a sair pela noite e se encontrar em situações, digamos, incomuns.
Tudo isso poderia ser evitado, foi uma maldita frase, em um momento de fumo mútuo, que levou tudo a quase desmoronar... São as pequenas coisas... que se tornam enormes...
Por que será que dão tanta importância a essas pequenas coisas? Serão importantes, ou as pessoas acabam se apegando a elas para terem algum argumento para soltarem algo a mais? Paciência e compreensão são virtudes. Dizem que são aprimoradas com o tempo. Numa conversa, são essenciais.
Já nos extras do filme, Nicole Kidman diz que tentou deixar seu monólogo perfeito. Kubrick já dizia: ela está chapada, não é para ser perfeito, e além disso, toda discussão as pessoas falam grandes besteiras assim como coisas muito profundas.
E acho que isso pode resumir o filme e uma filosofia que tento seguir faz um tempo que é a de tentar compreender mais o próximo, não tentar se sobrepor, e isso tudo, voltando aos outros dois filmes citados, sendo feito para contradizer a porcaria da nova moda de que o amor é old-fashioned. E dai se for? Posso ter orgulho de ser antiquado?

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